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APOTEOSE DO BUMBUM

Com a aproximação da mais famosa festa popular da Bahia, o Carnaval, voltamos a pensar sobre as polêmicas advindas da exótica carnalidade baiana. Nos dois últimos anos discutimos sobre a musicalidade e o comportamento "carnavalesco" das bandas e blocos baianos, tomando como contraponto o conceito de carnavalização. Agora, no entanto, vamos provocar as atenções abordando a "maior novidade" da nossa "cultura": o bumbum de Carla do Tchan (para evitar qualquer desavença, observamos que o nosso olhar não é literal, mas virtual e aqui somente temos interesse teórico por tal bumbum!!!).
Gostaríamos de partir da polêmica cientificamente levantada pela tese de uma pesquisadora, apontando dados sobre os possíveis resultados desestruturadores dos laços familiares, bem como da perda da estima sexual feminina atribuídos à atual dança do bumbum, entre outras danças estimuladoras de erotismo.
Não temos a pretensão de atribuir à ciência um estatuto de verdade que vise totalizar as representações culturais, nem sequer estabelecer um critério absoluto para atribuir valor a estas mesmas manifestações artísticas, contudo, já pontuamos, em textos anteriores, o grau de superficialidade e de apelo a uma massificação da conduta cultural de um lugar. Apontamos ainda o perigoso esvaziamento cultural estimulado por uma necessidade puramente mercantilista da arte, tomando o lugar de uma reflexão mais apurada do ponto de vista ético e estético da chamada cultura carnavalesca baiana – um pequeno exemplo é o nível das supostas entrevistas concedidas pela bailarina e mesmo várias outras entrevistas de demais personalidades da "cultura" baiana que já tive o desprazer de acompanhar em programas nacionais de TV.
Estes elementos apontados, aparentemente esnobes e elitistas, do ponto de vista do saber, são uma constante entre pessoas preocupadas com estes sucessos passageiros e enebriantes desarticuladores de um primeiro sentido balizador de uma manifestação artístico/cultural, ou seja, a sua atemporalidade e universalidade na forma, ao mesmo tempo sendo a representação legítima (não estereotipia sexualizada) de um espaço-tempo humanizado.
Portanto, é preciso contestar coerentemente pregões como este, de caráter abusivamente consumista, infelizmente apoiados pelo poder econômico, até mesmo oficial, e defender manifestações culturais espontaneamente populares que padecem e desaparecem por falta de atenção, ou são capituladas no grande mercado de consumo como folclore puramente exótico, tornando alguns bons artistas meros serviçais do consumo, pois desaparecem misteriosamente quando não dão "ibope", como se fossem iguais a estas outras marcas banais.
Mas voltemos a atual imagem da Bahia: o bumbum de Carla. Sabemos que esta exploração da imagem de uma sensualidade feminina é antiga e atravessa toda uma literatura da história social do patriarcado, tornando-se, muitas vezes, imagens artísticas, veladamente ou explicitamente, a depender dos valores morais e estéticos de cada época e de cada sociedade envolvida. Para tanto citamos apenas alguns exemplos tão públicos quanto o bumbum de Carla: a destruição de Tróia por causa de Helena, na Ilíada de Homero; a cabeça cortada de São João, devido a arguta dança de Salomé, fato bíblico, de conhecimento unânime num País de predomínio cristão; para não citar muitos outros casos.
Agora passo à literatura brasileira para fazer um contraponto com o bumbum de Carla, demonstrando, assim, que a atual dançarina baiana não está sozinha nesta história marcada por um erotismo canibalesco, reforçado pela inconsciência feminina, fatores que impulsionam um naturalismo exacerbado da sensualidade da mulher, apagando a variante do gênero.

Texto : Cláudio Novaes
Exalta as diferenças na dança na apoteose do bumbum


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