CARNAVAL

O carnaval me fascinou desde a mais tenra infância e ficava alucinada querendo participar dos blocos que se formavam, encantador no colorido e especial na animação de cada folião. Na minha cidade do Rio de Janeiro era a delícia dos meus tempos de garota. Jogava as serpentinas como eu observava os adultos fazerem, e ficava enfeitiçada pela direção imprevisível que elas tomavam. Tudo era fascinação nos áureos tempos em que ainda se podia dar ao luxo de brincar carnaval, sem temer a violência e as drogas. Elas existiam, mas de uma maneira mais amena e sem ostentação.

Em todos os carnavais de minha infância a fantasia era indumentária insubstituível, uma espécie de entrada obrigatória e evidente para qualquer reunião da criançada enlouquecida pelas brincadeiras informais e querendo seguir o palhaço que fazia a abertura da festa popular. E nos reuníamos primeiramente na Praça do Lido, sambando ao ritmo das músicas executadas.

Nunca esquecerei o leve e inebriante torpor que aqueles três dias me causavam com sua brilhante alegria. E olvidávamos até das mágoas infantis naquele compasso exuberante o que me faz recordar a época com imensa saudade. Os blocos que passavam faziam-me delirar e queria a qualquer custo entrar na roda especial dos carnavalescos.

Acho que minha terra infelizmente teve que perder a característica especial da alegria saudável para se preocupar em se defender ou ser prudente. E com isso se esvaiu a espontaneidade que brotava em cada gesto, tornando o carnaval o mistério de dias prazerosos e brilhantes.

Essa festa folclórica, tão importante porque faz a tradição do nosso povo, que inebria a quantos dela participam hoje está infelizmente com o peso da violência e da aids. Já não falo das escolas de samba que são protegidas e tem um lugar próprio para se exibirem. E um público cativo.

Refiro-me ao carnaval espontâneo que brota da alma das pessoas para o corpo necessitado de extravasamento e se refaz em fantasias ritmadas explodidas no compasso de cada melodia. Músicas melodiosas e vibrantes que entravam em nossos corações antes de acelerar o corpo fremente. E que esparziam o misterioso encantamento dessa comemoração jamais esquecida.

Carnaval que não precisa de prêmios para se revelar nascendo em cada pessoa, em cada brasileiro com força extraordinária, a encontrar uma fonte talvez de compensação numa vida sofrida e desamparada.

Os bailes de máscaras tinham uma atração ímpar pelo colorido multiforme, mistérios guardados que pareciam saltitar dentro de cada um. É como se pudessem realizar nessa personificação a representação da vida que queriam encarnar.

Lamento que a nossa festa popular tenha perdido a naturalidade que fazia com que as pessoas pudessem em movimentos uníssonos absorver o movimento que se desprendia barulhento e ao mesmo tempo harmonioso, transformando essas horas ininterruptas em momentos prazerosos, cujo cansaço dilacerava tudo que pudesse haver de energia negativa.

Só desejo que um dia quando a violência amainar talvez por um milagre, quando as pessoas vierem novamente a compreender o espírito do verdadeiro carnaval, possamos tê-lo sem as tensões que hoje percrustamos em cada folião empolgado, e sentir o encantamento dessa festa a um tempo misteriosa e fascinante.

Texto : Vânia Moreira Diniz



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