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O INÍCIO DO FIM DO CARNAVAL

Um papel inteiro em branco sem linhas, margens ou sequer um ponto pra gerar inspiração. Um ano de espera, preparação, expectativas, é assim que sinto as ruas depois de celebrar a arte, numa imensa festa comemorativa cheia de luz e cor onde as pessoas, por momentos, esquecem o sistema criado por si para encobrir suas falhas e imperfeições e resolvem simplesmente ser!

Ser o que se deseja, o que se pensa... ser sem fronteiras ou limites ,demonstrando vontade e voracidade no jeito de dançar , no jeito de vestir , no jeito de gritar ...Senti meu coração palpitar ao entrar na avenida e ver o bloco inteiro de azul colocar as mãos pra cima num pedido singelo e um pouco rouco que partiu de dentro de mim .

Cada um dentro do seu grupo, ou do seu par ou dentro de si, de olhos fechados, sorriso no rosto, simplesmente reagia a minha vibração sem saber que o simples levantar das mãos ,o canto , o movimento da massa eram pra mim como receber um sopro forte e cheio de luz!!

Ao subir naquele caminhão todo decorado tinha no corpo penas, couro ,trança, raiz, que reproduziram na minha mente um filme rápido que me fez acreditar que o nosso povo tinha acabado de aportar um pouco mais à frente, mas ao invés de dor e sofrimento , trazendo cultura, magia , repique , timbal, agogô ,adjá , xerê , trazendo o samba, o semba , o kuduro ,trazendo a nossa cor , o nosso timbre swing e a nossa forma de amar!

E ao invés da negrinha, sonhando em um dia ser a patroa, me senti uma Nzinga no século 21. Senti-me feminina e forte, porque vi que a nossa TV se interessar em mostrar como somos bonitos negros ,como ficamos lindos misturados,como somos grandes, trabalhando honestamente ...senti minha voz criando força porque vi que nossas rádios também queriam mostrar pro mundo como era boa a nossa música que começou em rodas de senzala misturada ao que acabamos de descobrir.

E ver o câmera sorrir era como imaginar a reação do mundo inteiro naquele momento assistindo e tentando sentir o nosso estado de espírito ,olhava para todos com um olhar de "agradecida" e, em seguida, um outro de "junte-se a nós".

Nós, digo, povo brasileiro , que luta pra encarar a "rate racer" que bob falou há anos na Jamaica , essa "gente bronzeada que mostra seu valor" , nós, dignos de reconhecimento pela nossa força , pela nossa coragem , vontade , nós que juntamos santos e orixás , patuás e escapulários num colar de contas azuis e brancas pra saudar filosofia indiana com alfazema.

Nós que sabemos com todas as dificuldades da vida fazer uma festa com magnitude e esplendor chamada Carnaval ...sim!Nós! Sim, nós podemos!! E por essas linhas vai ficando mais um Carnaval marcado sócio e economicamente por um povo que resiste, busca o que quer e além de tudo sabe ser feliz! Que venha 2010, "Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros que nós queremos: Sambar!"

Após o frisson do Carnaval de Salvador 2009, Larissa Luz, vocalista da banda Ara Ketu e aluna do curso de Letras da Universidade Federal da Bahia, escreve crônica sobre a maior festa popular de rua do mundo.

Texto : Larissa Luz - Março 2009
vocalista Banda Ara Ketu


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