.·.·'¯`·.·.(¯`·._.·[ SOLSTÍCIO DE VERÃO ]·._.·'¯).·.·'¯`·.·. ... :: MITOLOGIAS AGRÁRIAS :: ... O Solstício de Verão é uma das datas de maior projecção no Calendário Cósmico, pelo facto de o Sol estar no máximo esplendor. A vegetação acompanha este ritmo com toda a pujança, o que faz com que muitas das manifestações tenham a ver com estes dois factores. A vegetação era entendida como uma manifestação divina na terra, uma dádiva do Sol, de grande importância para o homem recém sedentarizado (e inteiramente dependente da agricultura). A Igreja Católica, reconhecendo a força desta crença, uniu a esta data a da celebração de S. João, o “Santo da Natureza”, misteriosamente ligado a tantas práticas naturalistas do Solstício de Verão. As Festas Sanjoaninas de Angra acontecem em pleno Solstício de Verão, oferecendo um emblemático exemplo das possibilidades existentes para o estudo das mitologias agrárias Europeias nas festividades populares. Nelas surgem muitas das simbologias ritualizadas que, ainda no século XIX, eram comuns um pouco por todo o Continente Europeu, segundo os relatos de Willelm Mandaarht, Arnold van Gennep, Mircea Eliade, ou James Frazer, assim como em Portugal, informam Leite de Vasconcelos e Ernesto Veiga de Oliveira, entre outros. Dada a importância atribuída à “Rainha” (que representa Diana) a figura principal da Festa, a base conceptual que parece suportar toda a celebração deverá ser a da crença na sacralidade da vegetação, e a da possibilidade de transferência deste estado de “santidade” para a cidade, local impuro por contraste com a floresta. No Cortejo da Rainha, peça fundamental das Sanjoaninas, Diana, deusa da vegetação, é invocada no acto de sacralização da cidade, antigamente executado através da “bênção” que se pedia a Diana (ou à Rainha) e objectivado nos ramos de vegetação que eram transferidos da floresta para o burgo. A vegetação purifica o burgo, libertando-o dos espíritos do mal. Indícios desta ligação ao passado aparecem assim no conjunto de elementos que configuram as Sanjoaninas: não só no formato do Cortejo, mas também nas decorações com ramos de vegetação, em forma de arcos, de festões, de grinaldas, transportados nas “marchas de S. João”, de modo ainda ritualizado e complementado por muitas danças, que eram também um importante elemento do ritual da sacralização. As Sanjoaninas parecem conservar estes vestígios, como memórias e intuições, cada ano apresentadas sob diferentes roupagens, por vezes salientadas, outras substituídas, mas mantendo sempre alguns aspectos fulcrais. Dionísio, a contra parte de Diana, igualmente entendido como Deus da vegetação, é outra das divindades que, no passado, apareciam ligadas ao Solstício de Verão, sendo comummente representado na figura de um touro, sendo sob este símbolo que aparece nas Festas Sanjoaninas. O touro (tal como na Grécia no mês de Junho, no ritual da buphonia) tem um papel preponderante nas Sanjoaninas de Angra, manifestado em diferentes situações, tais como esperas de gado, touradas de praça, touradas de rua (para crianças), num calendário bastante intenso. O sentido principal que parece ressaltar da relação com este animal, é o do desejo de 4 o ver e de estar próximo dele. Este sentimento torna-se particularmente evidente nas esperas de gado, mas surge também noutras situações. Num ano da década de 90, foi mesmo integrado num dos Cortejos uma espécie de altar com a escultura de um grande touro branco, levado aos ombros por vários homens. As Sanjoaninas incluem ainda dois outros elementos fundamentais do Solstício: as fogueiras e o fogo da artificio, ambos simbolizando a necessidade da reconstituição da energia do sol (armazenada na vegetação), durante os períodos críticos (que na altura se entendiam como de mudança no seu percurso). Esta energia, liberta pelo fogo, toma aspectos mágicos caracterizados também nas sortes do salto da fogueira. Outros elementos de menor importância mas ainda pertencentes a este conjunto no passado estão presentes nas Sanjoaninas, tais como competições desportivas (que serviam para selecção do par representante dos deuses), determinados ritos pertencentes ao Culto do Espírito Santo, entre outros. As Festas de S. João, ou Sanjoaninas, estão documentadas em termos históricos, em Angra, desde 1611. Celebrações do Santo acontecem também em várias outras ilhas, mas sempre ligadas à vegetação, o que aponta para a possibilidade da sua anterior origem. No Faial, por exemplo, neste dia a população dirigia-se em massa para um encontro comunitário na Caldeira (o lugar mais selvagem, ou de maior contacto com a natureza da ilha). No Pico, uma digressão semelhante tinha lugar em direcção aos ilhéus da Madalena, onde as pessoas passavam todo o dia. ........................................................................................................................... Texto de Antonieta Costa - Angra/RJ, Julho de 2004 Referências Bibliográficas - Álvarez de Miranda, Ritos y Juegos del Toro, Madrid, 1962/1998 - Antonieta Costa, O Poder e as Irmandades do Espírito Santo, Edição Rei dos Livros, Lisboa, 1999. - Arnold van Gennep, Manuel de Folklore Français Contemporain, Paris, 1947 - James Frazer, The Golden Bough, a study in magic and religion, Library of Congress, Oxford, Great Britain, 1890/1994 - Mircea Eliade, Tratado de História das Religiões, Edição Cosmos, 1970/1977 - Wilhelm Mannhardt, Mythologische Forschungen aus dem Nachlass, Quellen und Forschungen zur Sprach- und Kulturgeschichte der germanischen Völker, Strassburg 1884, vol 51 “Germanische Mythen”, Berlin 1858 ........................................................................................................................... .·.·'¯`·.·.(¯`·._.·[www.carnaxe.com.br/historia/hist1.htm]·._.·'¯).·.·'¯`·.·.