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Ricardo Chaves Pedreira de Freitas (Salvador/BA, 11 de junho de 1963), popularmente conhecido como Ricardo Chaves. Pela primeira vez NÃO PARTICIPARÁ do Carnaval de Salvador em 2013. Sem vaga para colocar seu bloco na rua, Ricardo Chaves se apresenta de sexta à terça, no Rio Grande do Norte e Ceará. Confira aqui o desabafo do cantor.


1981
Em 1981 Ricardo Chaves tinha uma idéia traçada: queria terminar a faculdade de Administração de Empresas e ir embora de Salvador para tentar a sorte na música. Ele tocava baixo e cantava em uma banda de rock chamada Fim da Picada. O trio elétrico mudou os seus planos e ele acabou se tornando um dos principais cantores da Bahia, além de ser considerado o melhor puxador de blocos de trio do país. Tudo começou no bloco Pinel, onde atuava como cantor.
O tempo se encarregou de favorecer a explosão da música baiana inclusive no eixo Rio/São Paulo, fazendo Ricardo Chaves desistir da idéia de deixar Salvador. Mesmo depois de formado, foi se envolvendo cada vez mais com a música, deixando a carreira de administrador “guardada”, como ele mesmo diz.


1982
Em 1982, à frente da banda Pinel, ele fez o seu primeiro Carnaval. Permaneceu na banda por cinco anos. Nessa mesma época, paralelamente, era o cantor da banda Cabo de Guerra, uma das mais importantes bandas de rock de Salvador. Em 1986 foi convidado pela gravadora RCA para gravar seu primeiro disco-solo e se arriscou em mais essa aventura, emplacando o sucesso Taba, de autoria de Carlinhos Cor das Águas e Renato Mattos. Um ano mais tarde puxou o Bloco Frenesi, já tendo contrato fechado com o bloco Eva para 1988, onde ficou até 1992.


1993
No Carnaval de 1993 Ricardo comandou o Crocodilo para o qual compôs a música que é até hoje sua marca registrada: O Bicho. Foi no mesmo momento em que os carnavais fora de época se espalharam pelo Brasil e Ricardo passou a ser presença garantida em todos eles. Ficou no Crocodilo até 1995 quando saiu para um de seus maiores desafios. Ricardo arrendou por seis anos o Coruja, um dos mais tradicionais blocos do Carnaval de Salvador que passava por um momento muito difícil. Depois de recolocar o bloco como um dos mais disputados, em 2002, estourou com dois grandes sucessos, a inauguração do seu camarote e em seu retorno ao Bloco Crocodilo, dessa vez no circuito da Barra. No ano de 2003, mais uma grande surpresa para os foliões, além do camarote e do Bloco Crocodilo, Ricardo estreou o seu Trio Off Road, trio independente que também agitou o folião da pipoca no carnaval. Em 2008, Ricardo inovou e trouxe para o Carnaval de Salvador o bloco Bicho que desfilou no circuito Barra-Ondina até 2012. Proveniente do Carnatal, festa onde Ricardo Chaves é considerado rei, o bloco Bicho é o único do evento que mantém por 23 anos consecutivos o mesmo cantor no comando, tendência contrária ao que ocorre nos dias atuais onde as pessoas saem cada dia em um bloco e, no entender de Ricardo, não criam fidelidade nem integração folião/artista.
Também nesse período, Ricardo Chaves começou a demonstrar preocupação com os rumos do Carnaval de Salvador através de textos publicados em seu site. O primeiro em 2010 “Silêncio Conveniente”, em seguida “Foco” e por fim “Carnaval ou Festival?”, repercutidos amplamente na imprensa.


2011
Ricardo Chaves escreve a Crônica "Silêncio Conveniente"


2013
Em 2013, paralelamente com sua carreira estreou com o Alavontê. Movimento musical que nasceu espontaneamente a partir dos encontros entre amigos, nos quais Manno Góes, Jonga Cunha, Andrezão Simões e Ricardo Chaves se animaram com a possibilidade de tocarem juntos, o que já fazem informalmente. A proposta inicial, mantida até então, é criar e compartilhar canções sem o que Manno chama de “amarras mercadológicas”, ou seja, as responsabilidades de contrato, cachês e agenda típicos de uma banda.


2013 -

CARNAVAL OU FESTIVAL? EIS A QUESTÃO!
Reflexão de Ricardo Chaves sobre o Carnaval 2013


Pela primeira vez, desde 1982, quando ainda adolescente, aceitei o convite de Durval Lélys para ser o cantor da banda que tocou no bloco Pinel, não irei participar do carnaval em Salvador. É uma sensação estranha. O que mais me incomoda, não é estar momentaneamente fora da festa, mas sim o fato da festa estar fora de mim. Nos últimos dois anos escrevi textos com as minhas reflexões a respeito do carnaval de salvador. O primeiro chamei de “Silêncio Conveniente” e, no ano passado, escrevi “O Foco”. Em ambos, a intenção foi abordar pontos que, em minha opinião, podem estar conduzindo a festa para um destino perigoso. Tenho a triste convicção de que a festa feita hoje está cada dia mais distante da que eu ajudei a construir. Pode ser uma opinião isolada, mas sinto falta de alma e de identidade no carnaval que a minha cidade está produzindo. Parece que o evento que apresentou ao mundo uma musicalidade própria, original, popular e única, se transformou em uma extensão de outro grande evento musical baiano que é o festival de verão, onde a máxima do “movido pela mistura” é o que determina a sua dinâmica. No festival funciona muito bem. E no carnaval? Eu tenho dúvida.

Apenas coloco o questionamento do que a cidade se propõe a oferecer no seu carnaval. Se quer uma festa popular, original, com uma cara própria ou um grande festival musical que acontece nas suas ruas. Pra mim esse é um ponto que deve ser deixado claro para se definir o que irá ser feito mais na frente. Eu sou suspeito, pois faço parte de uma geração que, quando subia no trio para cantar, tinha para escolher músicas como “chame gente”, “taba”, “baianidade nagô”, “eva”, “prefixo de verão”, “é d’oxum”, “protesto olodum”, “com amor” e tantas outras, produzidas para a festa, que se tornaram clássicas. no atual “festival”, o cardápio é bem diferente. Só para exemplificar, ele está cheio de camaro, dodge ram, land roover, fiorino, doblô, até parece catálogo de montadora de automóvel. Fica a impressão de que tudo é feito para passar na velocidade de uma ferrari.

Sou contra qualquer tipo de protecionismo musical, até porque, no som que brotou dos trios, não só podemos, como devemos misturar tudo. Essa característica ajudou a fazer a nossa festa ganhar o mundo e transformou os seus músicos em artistas conhecidos. A mistura sempre foi usada por nós, para produzir a música que depois veio a ser chamada de axé music. Nas entrevistas dadas por alguns artistas e celebridades que têm participado de blocos no “Carnaval de Salvador”, o que mais se escuta são frases do tipo: “como é bom pegar um pouco da energia da Bahia! é muito bom estar aqui!”.

Antes, produzíamos música. Hoje, é como se tivéssemos virado uma espécie de filial de Itaipu. É tanta gente buscando energia, que pode acabar causando um apagão musical. Se você leu o texto até aqui, pode estar pensando: “esse cara está reclamando porque ficou de fora”. Alguns certamente nem sentirão a minha ausência. Mas, o que escrevo, independe de eu cantar ou não em salvador no próximo carnaval. Participar da festa, atualmente passou a ser uma decisão puramente financeira. Nos últimos anos, a maneira como os desfiles estão sendo definidos nos circuitos, a meu ver, é absurda! Dos temas tratados por mim nos outros dois textos, talvez esse seja o mais delicado. Sei que abordá-lo poderá me causar vários transtornos, mas acho que já passou da hora de se mexer nessa ferida.

Há muitos anos, os desfiles dos blocos ocorriam de forma desordenada. Foi necessário que se criassem mecanismos para organizar as coisas. Com a participação de blocos, artistas, imprensa e empresários, sob a coordenação da prefeitura, surgiram a fila e os horários definidos para ordenar os desfiles. Na época, concordei que, mesmo sem ser necessariamente o mais justo, o critério adotado de se formar a fila levando em conta a antiguidade do bloco, era o que melhor cumpria o papel de tentar organizar a festa.

Assim foi feito e o carnaval de salvador foi ganhando cada vez mais espaço e conquistando mais admiradores. Com o passar dos anos, assim como na política atual existem partidos de aluguel, surgiu então a figura dos blocos hospedeiros. A lógica é simples: quem conquistou a vaga no passado e deixou de desfilar, continuou com ela passando a alugá-la. Quem paga mais, ganha o “direito” de ocupar, quase sempre provisoriamente, o espaço. Essa prática desaguou na aberração de se ver na programação oficial dos desfiles, blocos com denominações inusitadas do tipo “bloco x/y”. Traduzindo para os leigos:
x= nome do bloco “dono” da vaga
y= nome do bloco que pagou a x e ganhou o “direito” de desfilar no seu lugar

Para não falar dos outros, vou dar como exemplo O Bicho – bloco que comandei nos últimos quatro anos. Quem olhar a programação oficial dos seus três primeiros anos vai perceber que ele estava inscrito com o nome de bloco x / bicho. No ano passado, o dono do então bloco x, arrumou outro “cliente”. Como eu tinha compromisso de colocar o bloco na rua, achei no mercado negro uma “oferta” que levou o bicho a desfilar em um horário mais tarde e somente por dois dias. Meu bloco foi então inscrito com o nome de outro bloco x / bicho. Todas as vagas são de um “dono” e uma parte dos blocos originais já não desfila mais. Da maneira que as coisas se encontram, tendo a disposição de pagar, se consegue colocar um bloco nas ruas de salvador independente do que ele possa ter de ligação com o que se costumava chamar carnaval. Até que ponto vale a pena disputar financeiramente um espaço para desfilar? Penso que isso tem que mudar. Essas são opiniões particulares de um cidadão que, mesmo sem às vezes concordar com os rumos escolhidos pelos envolvidos na folia, sempre se orgulhou da festa que sua cidade tem proporcionado para quem queira participar. São reflexões de um soteropolitano que é também um artista que há mais de três décadas tem dedicado a sua arte e a sua voz, para tentar fazer uma festa cada vez melhor. Tenho conversado muito com outros artistas, com jornalistas, empresários e foliões. Todos concordam que, do jeito que está não dá prá continuar. Algo tem que ser feito e tenho certeza que será! A chegada de um novo prefeito é um bom momento para se debater ideias de possíveis futuras mudanças.

Neste carnaval, estarei mais uma vez todos os dias, em cima do trio. Vou tocar em outras cidades do país. Em todos eles, vou estar me divertindo, fazendo o que gosto e torcendo muito para que o carnaval da minha cidade retome o rumo e volte a ser uma festa que mantenha a diversidade, mas sem nunca deixar de ser baiana. Rever a “feira livre” da fila não resolve todos os problemas, mas pode ser um bom começo para coibir aventuras de ocasião no carnaval. Independente de gostar ou não do meu trabalho, peço que reflita se a forma como a festa tem acontecido vem te agradando. Os números não costumam mentir. Ultimamente eles revelam que, ano após ano, cada vez mais turistas e, principalmente os soteropolitanos, ao sentirem a proximidade do “festival de rua”, sentem vontade de cantar um trecho do refrão de uma das inúmeras músicas dos meus amigos Beto garrido e Alexandre peixe, que foi gravada pelo chiclete com banana, a banda que há mais tempo representa o verdadeiro carnaval de salvador, e diz:

A fila andou, eu te falei,
Não deu valor, como eu te amei,
Agora chora, você já me perdeu,
Tô fora!

Independente das opiniões e do local onde estejamos no carnaval, boa festa para todos nós.
Que venha 2014!
Ricardo Chaves

Fonte : Ricardo Chaves - 22/01/2013


2015 - 30 ANOS AXÉ MUSIC - Troféu Dodô & Osmar - fevereiro
Principais sucessos: 'Pequena Eva, É o Bicho, Acabou, Tô De Bem Com A Vida.
Blocos que já puxou:Bloco Pinel, Frenesi, Eva, Crocodilo, Coruja, O Bicho
Momento marcante: “Meu momento marcante não aconteceu exatamente durante o Carnaval e, sim, durante um show de Luiz Caldas, na Praça Castro Alves. A banda Olodum começou a tocar 'Faraó', que foi um hit naquela época, e o público todo cantava junto. Foi a primeira vez que ouvi essa música”, conta Ricardo.


2016
Experiente puxador de trios elétricos com 19 álbuns e 2 DVDs, Ricardo Chaves sabe bem como transmitir animação e emoção ao folião que o segue religiosamente em todos os apresentações pelo país.
Ricardo tem um público bem definido, fiel e ávido para ser abastecido por suas novidades. Como um grande inovador, a cada ano ele prova que carnaval se faz com profissionalismo, alegria e com admiração de seus fãs espalhados por todos os cantos, nascendo a cada ano, um novo fã clube com associados cada vez mais encantados com o carisma desse grande artista.
Com a carreira que se confunde com a história do que ficou conhecido como “Axé Music”, Ricardo segue fazendo a alegria de milhares de pessoas de várias gerações que não resistem ao astral da sua música que ele diz que é feita para ser a trilha sonora de momentos alegres na vida das pessoas.


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