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Resgate da trajetória do trio elétgrico





Pesquisadora Lilian Cristina Marcon
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Caetano Veloso fala sobre o Trio Elétrico
Entrevista ao Jornal Folha da Bahia

O que significa para você o trio elétrico?
O trio elétrico é uma das manifestações culturais mais importantes do Brasil. Uma invenção audaciosa e despreocupada, de pessoas tipicamente baianas. Não podia ter sido inventado em outro lugar.

Que impacto o trio elétrico lhe causou quando você viu e ouviu seu som pela primeira vez?
Achei maravilhoso. Eu era menino e tinha entre 10 a 12 anos, quando apareceu um trio de Salvador em Santo Amaro. Todo mundo saía atrás e pulava. Aí, todos os anos, sempre um trio se apresentava na cidade e Santo Amaro chegou a ter um trio elétrico próprio. Até então, no início dos anos 50, o Carnaval em Santo Amaro era animado por blocos, que se transformavam em ternos e tocavam marchas e sambas do Rio de Janeiro. Mas só as marchas animavam. Existiam dois blocos: Amantes da Moda e Amantes da Folia. O primeiro era animado pela banda Filhos de Apolo e o outro, pelo grupo Filhos dos Artistas.

Em que ano você compôs Atrás do trio elétrico, considerada como a música que divulgou a invenção de Dodô e Osmar para todo o Brasil?
Compus em 1968, mas a música tocou no Carnaval de 1969. Os trios elétricos, como Tapajós e Jacaré, a divulgaram bastante. Nessa época, estava preso na cadeia, no Rio de Janeiro. Quando fui libertado e vim para Salvador, já tinha passado o Carnaval. Na seqüência, fui para Londres e continuei fazendo frevos para tocar no trio elétrico, no Carnaval de Salvador, como Frevo novo ("Mete o cotovelo/ Vai abrindo caminho") e Chuva suor e cerveja.

Quando você conheceu Dodô e Osmar?
Foi quando voltei de Londres. Inclusive, depois que Atrás do trio elétrico fez sucesso, o trio de Dodô e Osmar voltou a atuar. E com o prestígio que o trio tinha alcançado, seus inventores puderam ir às ruas com a mesma infra-estrutura de outros trios. Os patrocinadores passaram a investir e eles me agradeceram muito. Osmar sempre fazia questão de me agradecer. E sempre cantei no trio deles.

Outro artista que compôs muito para o trio foi Moraes Moreira...
Moraes fez frevos maravilhosos, além de passar a cantar em cima do trio. Ele somou aos frevos o ijexá, e abriu uma gama de possibilidades muito rica para a música que, mais tarde, foi, pejorativamente, chamada de axé music.

Por que esses críticos usavam este termo pejorativo?
No início, achei que era para ridicularizar. Até hoje muita gente ainda se refere a essa música com esse tom pejorativo. Mas o público está se lixando para isso. As pessoas gostam. Mas eu concordo que o pico do consumo e da aceitação comercial da axé music parece ter passado. É o que eu sinto. Mas artistas como Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Netinho estão estáveis. São talentosos e vão continuar seus caminhos. E o Carnaval continuará existindo. E isso é bom, porque abre outros espaços.

Quando você conheceu o Carnaval de Salvador?
Primeiro, conheci o Carnaval do Rio de Janeiro. Em 1956, fiquei maravilhado com a festa no Rio, que acontecia na Avenida Rio Branco, na Cinelândia. Tinha o desfile das escolas de samba, na Presidente Vargas. Batucadas, mascarados. O Carnaval acontecia em todos os subúrbios. Só em 1960, quando fui estudar em Salvador, conheci o Carnaval da cidade e foi um grande impacto.

Como era o Carnaval nesse tempo?
A gente ia para a cidade pela manhã e ficava o dia todo na rua, até as 7 horas da noite. Antes o Carnaval acabava mais cedo. No final dos anos 60, o barato era ficar na rua até chegar a hora de ir ao baile, que era freqüentado pela elite, no Clube Bahiano de Tênis e Iate Clube, e pela classe média baixa, no Clube Fantoches da Euterpe, onde eu ia de vez em quando. Nos anos 70, as pessoas começaram a ficar cada vez mais tarde na rua, até a meia-noite, para depois ir ao baile. E com o passar dos anos, as pessoas deixaram de ir ao baile, porque já se comentava que o Carnaval de rua era muito melhor. Aí, criaram esses blocos, que levaram para a rua a mesma infra-estrutura dos bailes, com segurança, venda de bebidas e até mesmo o racismo.

Como assim?
As pessoas costumam falar que tem racismo nos blocos, mas esquecem que nos bailes era muito pior. No Bahiano de Tênis e no Iate Clube, não entrava preto de jeito nenhum. Hoje, a gente sabe que o racismo diminuiu muito, mas ainda existe. É o racismo envergonhado. O racista no Brasil tem a obrigação de fingir que não é. Isso é o mínimo que eu exijo de um racista.


Fonte: Folha da Bahia - Janeiro 2000


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