REI MOMO

Já que o sol nasceu para todos, que todos possam aproveitar o Carnaval, onde a democracia racial de Salvador exibe milhares de pessoas. Na Bahia, não é preciso aguardar 12 meses de ansiedade à espera desta época. Terra festeira, há durante todo o ano divertimentos alegres. “Lavagens” nos bairros e adjacências, hotéis, feijoadas animadas ao som de “conjuntos”, que para mim é um pré-Carnaval constante.
Caetano Veloso vaticinou: “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”. Mas, nem só atrás dos trios elétricos brincam os foliões. As bandinhas, os blocos em geral e os de percussão têm presença marcante.
O reinado de Momo é breve, mas pleno, liberal e liberado, democrático de suor e cerveja, de samba, cordões e afoxés e trios elétricos. Não sei onde tanta gente, nesta época de crise, desemprego, acha dinheiro para comprar abadás, beber e comer. Também não sei onde tanta gente conserva tamanha energia para pular, rebolar e dançar, noite e dia no asfalto, freneticamente, incansavelmente, e em cima dos trios, mostrando corpos sensuais, com minúsculas roupas. E tudo no reinado de Momo. Um rei de grande corte, obeso às próprias custas, não cobra impostos de ninguém, não prende, não persegue, pouco tem de seu como criatura humana, porém no seu simbolismo é majestade que realmente abre a cidade a todos, grandes e pequenos, sem impostos e taxas, sem problemas e exigências, sem ameaças e imposições, para uma grande festa, que abrange todas as camadas sociais.
Mas no Carnaval vale tudo. Muita alegria aos que realmente precisam retirar das costas, pelo menos durante uma semana, a grande e imensa carga de preocupação, angústia, que carregam durante o ano inteiro.
O povão no Carnaval esquece a espera de dias melhores que os políticos prometem e continuam a prometer, eles, políticos, mudando a toda hora de partido na ciranda de galho em galho, porque também na planície, onde há os menos favorecidos, é difícil viver. A válvula mesmo é o Carnaval. E como o povo é estóico, lá dentro do seu íntimo, um processo milagroso ou por instinto de conservação a alegria não fica adormecida.
Uma multidão sofrida, nestes dias esquece todas as amarguras e preocupações, faz tremer o chão da Praça da Sé a Ondina. Mesmo sem acreditar em muitos políticos que vão às ruas, misturando-se com o povo.
Esquecidos que azeite e água não se misturam.

Texto : Jacinta Passos



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