Blocos afros querem maior visibilidade no Carnaval
Carnaval da Bahia 2004


Não é de hoje que os blocos de trio, vinculados a grandes nomes da música baiana, tomaram conta do Carnaval de Salvador Enquanto isso, os blocos afros, símbolos da mais genuína baianidade, vêm perdendo terreno nos circuitos oficiais. Foi com o objetivo de lutar por uma maior fatia no bolo do orçamento municipal e por um apoio mais efetivo da iniciativa privada que representantes de entidades de afoxés, blocos afros e de percussão se reuniram para uma sessão especial na Câmara Municipal, na manhã de ontem. A idéia é adquirir maior visibilidade diante de baianos e turistas, e promover o resgate das raízes africanas no estado - uma história que os blocos afros sabem contar muito bem. Pode-se dizer que apenas dois blocos afros baianos mantêm a tradição - e condições financeiras - de promover festivais durante o ano: o Ilê Aiyê, que já conta até com sede própria, e o Olodum. O Ara Ketu, apesar de conservar as características de uma entidade afro, praticamente se transformou em um bloco de trio. Estes, por sua vez, são dominantes no Carnaval da Barra. Grande parte dos blocos afros, de afoxé e percussão, nasceu nos bairros da periferia, onde o grosso da população está desempregada e não tem condições de comprar fantasias. Por outro lado, quem tem dinheiro acaba dando preferência aos blocos de trio.

Um exemplo da dificuldade vivida pelas entidades é o bloco afro Vulcão da Liberdade, nascido há dez anos no bairro de mesmo nome. Nos primeiros tempos, contou com o suporte, inclusive financeiro, da cantora Daniela Mercury - que chegou a gravar, em seu terceir o disco, uma música com o nome do bloco. O tempo foi passando, os patrocinadores escassearam e a crise foi se instalando.

Apesar de ter desfilado no circuito do Campo Grande, no último Carnaval, com 1,5 mil foliões, 80 músicos de percussão e alguns grupos emergentes de pagode, o Vulcão da Liberdade acumula hoje um amontoado de dívidas. "Se não fosse o apoio oficial da prefeitura, através da Emtursa, o bloco poderia nem ter saído. Hoje, estamos no vermelho, devendo oito meses o aluguel de nossa sede. Nosso pessoal está sem pagamento e os confeccionadores das fantasias do Carnaval 2003 também", afirmou Paulo Kambuí, diretor do Vulcão da Liberdade. A meta agora é honrar os compromissos do Carnaval que passou e fazer de tudo para botar o bloco na rua no ano que vem. "Estamos nos reunindo para diminuir as despesas", complementou Kambuí. O sentimento de exclusão do Carnaval é nítido. "Nossos antigos foliões são hoje cordeiros de grandes blocos de trio, como o Camaleão. Passam o Carnaval inteiro com o pescoço para cima olhando para Bell", disse Roberto dos Santos, presidente da Associação dos Blocos Afros de Salvador. Ele acrescentou que grande parte das entidades não conta com bons carros alegóricos e não dispõem de recursos para fazer ensaios. Na sessão especial, porém, foi lembrada a sensibilidade do prefeito Antonio Imbassahy, que desde o início de sua gestão, vem dando incentivo e apoio à cultura afro através dos blocos. "Se não fosse Imbassahy, talvez os blocos afros já tivessem acabado. Antes dele, só havia dez entidades do ramo na ca-pital. Com ele, esse número subiu para 22", informou Roberto dos Santos.

Fonte: Correio da Bahia

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