FANTASIAS
Fantasia (em latim phantasia) é uma roupa que representa um animal, um super-herói, uma profissão, um objeto, um traje típico, etc.
As fantasias carnavalescas permitem que o folião se esconda atrás de identidades diferentes, uma maneira de disfarce, de realizar uma troca de papéis. A EVOLUÇÃO das fantasias remonta na Antiguidade, nos cultos agrários, e mistura no caldeirão da folia carnavalesca.
Com a fantasia você cai na folia momesca, restaura a alegria e entra no clima de euforia coletiva.
origem e história
As fantasias e máscaras de carnaval tem origem dos antigos rituais e celebrações, que variavam em cada lugar do mundo;
e que foram se tranformando, se adaptando e tendo diferentes significados com o decorrer do tempo.
Na Antiguidade, os egípcios e romanos realizavam festivais onde as pessoas usavam máscaras para representar deuses, espíritos ou personagens mitológicos.
Nos solstícios aconteciam os CULTOS AGRÁRIOS, rituais e celebraç&ões com excessos de bebedeiras e sexo, onde as pessoas se apresentavam FANTASIADAS ou seminuas.
Nas SACÉIAS, o papel social era invertido.
Na mudança da hierarquia social, os pebleus e servos passavam a imitar os gestos e comportamentos de seus nobres; e chegavam a usar até as suas vestes.
Encerrando as festividades, a inversão da realidade chegava ao seu fim.
Os nobres saiam nas festividades fantasiados e mascarados e no meio da plebe, para não serem reconhecidos.
Na Idade Média a igreja condenou publicamente o uso de fantasias, máscaras, cortejos e peças de teatro, pelos abusos estimulados gerando a bebedeira e o sexo.
Na Idade Média, fantasiavam-se de Bobos (ou Tolos ou Loucos ou Festa dos Inocentes) saindo em bandos na festança se agrupando nas ruas, praças, confratarias, entregando-se a dança, jogos (com bolas), etc.
Reparem na cabeça dos foliões, esse gorro era chamado CAPUZÃO, que na época era usado como fantasia de galo, onde o galo representava a carne e o ovo representava o nascimento. Um adeus a carne, por isso brincava-se indo atrás do ovo, como que buscando o renascimento.
Os tolos da corte foram autorizados a dizer muito o que queriam. A vida religiosa era alterada para vida pagã, o sagrado dava lugar ao profano. Membros do clero se vestiam como homens comuns e podiam festejar livremente. Nobres percorriam as ruas vestidos de pessoas comuns.
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A Festa dos Bobos 1560 - de Pieter Van der Heyden
fantasias da França
Em 1841, as fantasias de carnaval na Françaa seguiam uma tendência de simplicidade e elegância, com Pierrôs e Arlequins,
fantasias inspiradas em história e folclore local, além de fantasias dos personagens da Itália, com a COMMEDIA DELL´ARTE.
Costumes Carnaval 1841 - Biblioteca Nacional da França
Costumes Carnaval 1841 - Biblioteca Nacional da França
corso em Roma
Em 1812, no Carnaval em Roma, acontecia o Corso com carruagens decoradas e os foliões circulavam entre o desfiles com
fantasias improvisadas e exóticas: polichinelos em série, mamelucos com padrão de "cavalo", lunáticas, sátiros (homem-macaco), marinheiros e ciganas em confrontos encenados, palhaços, médicos e prostitutas, envoltos em confete e folia .
"REIS POR UM DIA, em posse de Fantasias, o povo tornou-se protagonista, esquecendo as rígidas regras diárias e saindo às ruas com licença para se divertir. Toda ordem social era subvertida, e toda piada foi permitida naqueles dias de loucura coletiva temporária. (1)

Fantasias do Carnaval de Roma por Bartolomeo Pinelli - 1815
Tempos depois, algumas fantasias tornaram-se popularesdo Carnaval de Roma era o MEO PATACCA (plebeu credulão, inspirado em personagem literário romano),
CASSANDRINO (nobre burguês ingênuo, trajando casaca e peruca, fala com voz nasal),
DON PASQUALE DE BISOGNOSI (caridoso das necessidades, personagem de máscara romana),
DOCTOR GAMBALUNGA (médico pomposo, figura folclórica),
GENERAL MANNAGIA LA ROCCA (líder auto-proclamado de um exército de pedintes, um militar satírico),
e PULCINELLA (versão romana), ZINGARA (cigana).

Fantasias do Carnaval de Roma por Bartolomeo Pinelli - 1812
"Até 1870, na Roma papal, VESTIR A FANTASIA e cair no Carnaval era um acontecimento muito esperado pelos romanos e vivido com grande participação como o único momento para esquecer uma vida dura, cheia de miséria e privações."
"Em Roma, a Via del Corso foi transformada num teatro ao ar livre onde às máscaras tradicionais - Cassandrino, Rugantino, Meo Patacca - se JUNTARAM TRAJES retirados da vida quotidiana: "o médico", "o bandido", "o nobre caído".
(1)
Charles Dickens descreveu as fantasias carnavalescas no no diário de viagem - Pictures from Italy:
"Foliões que circulavam entre Carruagens, óculos enormes, animais estranhos,
Longas fileiras de Policinelli , espalhando-se ao redor deles com bexigas estouradas nas pontas de varas; uma carroça cheia de loucos, gritando e se debatendo até a morte; uma carruagem cheia de mamelucos graves, com seu estandarte de rabo de cavalo erguido No meio da multidão; um grupo de ciganas envolvidas em terrível conflito com um navio cheio de marinheiros; um homem-macaco em um mastro, cercado por animais estranhos com rostos de porco e caudas de leão , carregados sob os braços ou graciosamente sobre os ombros; carruagens sobre carruagens, vestidos sobre vestidos, cores sobre cores, multidões sobre multidões, sem fim. Não muitos personagens reais sustentados, ou representados, talvez, considerando o número de vestidos com a fantasia de Pierrôs"(4)
corso no Brasil
Com o passar dos anos, especialmente no início do século XX, o Carnaval brasileiro foi se estruturando.
Surgiram os blocos carnavalescos e os primeiros corsos, desfiles de carros alegóricos decorados. As fantasias eram vestidos comuns da época levando as máscaras como acessório.
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Revista da Semana - Fantasias para o Carnaval 1928
entrudo
No início do século XIX, o Carnaval era uma festa popular de rua, marcada principalmente pelo Entrudo, uma tradição portuguesa que consistia em brincadeiras com água, farinha, tinta e outros líquidos.
Nessa época, as fantasias eram praticamente inexistentes: os foliões improvisavam disfarces simples ou usavam roupas velhas.
Em outros carnavais, onde imperava o ENTRUDO,
as pessoas brincavam envoltos em cobertas de taco ( a fantasia era chamada de ESTEIRAS DE CATOLÉ )
ou usavam CAMISETAS LONGAS ou usavam "perna de pau" (tipo equilibrista de circo) com o corpo inteiro coberto com um camisetão até o chão, já essa fantasia era chamada de ABADÁ.
Quem usavam estilos de fantasias grotescos eram chamados de CARETAS.
O careta era o pierrô mascarado; a mortalha era a liberdade descarada. Essa fantasia também tinha um capuz, mas logo o governo militar proibiu as máscaras.
Commedia dell´Arte
Com a demanda do teatro popular, as fantasias ganharam força na Commedia dell´Arte, tendo início no século XV na Itália, chegando ao ápice um século depois.
As principais fantasias dos personagens da Commedia dell´Arte eram: o Arlecchino, a Colombina, o Pantalone, a Brighella, o Pedrollino, a Pulcinella, o Dottore, o Capitano, o Orazio e a Isabella,
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Ilustração Maurice Sand
PIERROT

Ilustração Maurice Sand
COLOMBINA

Ilustração Maurice Sand
ARLECCHINO

Ilustração Maurice Sand
POLICHINELO
bailes à fantasia
Na metade do Século XVII, as vestimentas começram a ser confeccionadas exclusivamente para os Grandes Bailes de Más;caras
da cidade de Veneza, na Itália. Com o decorrer do tempo, as vestimentas viraram fantasias.
Nos Carnavais das primeiras décadas do século passado, de 1914 até por volta de 1930, há notícias de que era comum nos BAILES EM CLUBES, Ruas de bairros e Teatros fizessem as imponentes e inocentes BATALHAS de CONFETTI e LANÇA-PERFUMES no Rio de Janeiro, reunindo grupos de amigos e grandes famílias fantasiadas.
Masquerade Ball de Franz Christoph Janneck
O Malho, fevereiro 1919, ed-860 pg-14
Aos poucos, com a influência dos bailes de máscaras europeus, especialmente na elite urbana, começaram a surgir os primeiros trajes temáticos, como os de pierrô, arlequim e colombina - figuras típicas da Commedia dell'Arte italiana.
No Século XIX (1800-1899) as fantasias tinham influências européia.
De 1800 à 1850, o Carnaval no Brasil ainda era uma festa mais popular e espontãnea, com forte influência do Entrudo português, onde jogava-se água, farinha, tinta, etc.
As Fantasias praticamente inexistentes, predominavam roupas comuns (às vezes velhas) e disfarces improvisados.
De 1850 à 1890, são realizados os bailes de máscaras europeus e crescente modelos de fantasias.
Usavam os vestidos tradicionais acompanhados de largas perucas, Máscaras venesianas e fantasias aristocráticas e figuras históricas/ literárias
As Fantasias eram inspiradas na Commedia dell´Arte (pierrô, colombina, arlequim) e trajes de gala com máscaras.
No Brasil em 1870, os desfiles de rua e bailes começam a usar fantasias simples, tingidas e adaptadas - caveira, médico, morcego, malandro, diabinho, príncipe, bobo da corte, pierrô, colombina
Em fevereiro de 1919, o periódico brasileiro O Malho publicava as fantasias do Bal Maqué que foi realizado no Clube Bota Fogo (F.B.Club) na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil (O Malho 1919 ed860 pg14),
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Com o passar do tempo, as fantasias foram evoluindo junto com a sociedade, as fantasias refletem as mudanças nos valores culturais,
elas contam histórias, assim, as fantasias dos Bailes de Carnaval do Rio de Janeiro de 1823 eram vestidos longos, já em 1911 a moda começam a diminuir de tamanho, principalmente no Carnaval da cidade do Rio de Janeiro.
Carnaval Rio de Janeiro 1911 - Careta 143 pg8
bauta, a fantasia
A Bauta é uma tradicional fantasia do Carnaval de Veneza, na Itália.
O primeiro documento que atesta a existência da bauta remonta ao século XIII.
A fantasia veneziana (unisex) era muito usada devido o Carnaval da Itália acontecer durante o frio.
Além de que, com ar misterioso e elegante, os foliões de diversas classes sociais, se misturavam e se mantinham no anonimato durante a folia momesca.
A Fantasia de Bauta é composta por um manto (Tabarro), um capuz preto de tecido preso a uma bela renda (Zendale), um chapéu de três pontas (Tricorno) e uma máscara.
Quanto mais rico, melhor era a renda.
A máscara cobre o rosto inteiro, com uma borda proeminente e um queixo pontudo.
É feita de papel machê, plástico ou tecido, com acabamento em gesso e decorada com detalhes em relevo, pintura ou outros materiais,
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Fantasia Bauta - Ilustração Giovanni Grevembroch
mi-carême
Em 1912 aconteciam as grandes paradas na França, chamada Mi-carême, que
era uma tradicional festa onde desfilavam fantasiados, em meio ao período de quarenta dias de penitência da Igreja Católica.
De origem francesa, a palavra significa literalmente MEIO DA QUARESMA ou MID-QUARESMA,
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Mi-Carême 1894 - Biblioteca Nacional da França
rei momo
A Fantasia do Rei Momo é a FIGURA CENTRAL DO CARNAVAL BRASILEIRO, e tem suas raízes na mitologia grega e nas festas populares.
Inicialmente, o Rei Momo era uma figura mitológica, um deus associado à zombaria e ao sarcasmo, mas sua representação no carnaval moderno evoluiu,
A tradição de eleger um Rei Momo, Rainha e Princesas no carnaval brasileiro surgiu no Rio de Janeiro, em 1933, com a criação de um boneco de papelão pelo jornal "A Noite".
No ano seguinte, em 1934, começou a escolha de um Rei Momo de carne e osso, e o jornalista Moraes Cardoso foi o primeiro a ocupar o cargo, vestindo oficialmente a fantasia de REI MOMO DO CARNAVAL, no Rio de Janeiro.
A partir daí, a tradição se espalhou para outras cidades, com a escolha de rainhas e princesas, adicionando mais brilho e simbolismo à festa, com fantasias cada vez mais luxuosas e glamurosas, repletas de adereços,
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A foto ao lado é de Jean Manzon (acervo IMS) do Baile de Carnaval do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro.
Nela consta a Rainha do Baile das Atrizes (Mara Rúbia) e o Rei Momo (Francisco de Moraes Cardoso).
banhos de mar à fantasia
O banho à fantasia foi uma forma carnavalesca singular e sofisticada que marcou as primeiras décadas do século XX no Brasil,
especialmente na cidade do Rio de Janeiro. Diferente dos desfiles de rua ou dos bailes populares, o banho à fantasia era uma celebração refinada no mar que unia criatividade, elegância e exibição pública das fantasias carnavalescas,
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Banho à Fantasia no Rio de Janeiro - Revista da Semana, nr7 12/02/1921
fantasias infantis
A festividade carnavalesca voltada ao público infantil ocorre em todos o Brasil, proporcionando um ambiente lúdico e divertido, onde os pequenos podem se fantasiar, brincar e interagir com outras crianças.
Antigamente acompanhavam os pais nos corsos e nas ruas. Com o passar do tempo, ganhou Bailes exclusivos nas Matinês carnavalescas brasileiras.
As fantasias mais comuns hoje em dia são as de PIERRÔS, de ARLEQUINS, de COLOMBINA e de PALHAÇO.
Flyer do Carnaval 2020 da Casa Museu Eva Klabin no RJ
Revista da Semana - fevereiro 1923 pg38
bonecos gigantes e cabeçudos
A diversidade carnavalesca brasileira é rica e extensa, e as fantasias se misturam aos GIGANTONES,
aos BONECOS GIGANTES DE OLINDA e aos CABEÇUDOS,
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blocos e escolas de samba
Surgem os primeiros blocos organizados e as grandes sociedades carnavalescas no Rio de Janeiro.
As fantasias eram confeccionadas com tecidos leves, adereços simples, rendas, cetim.
O primeiro bloco de carnaval organizado no Brasil foi o Congresso das Sumidades Carnavalescas, fundado no Rio de Janeiro em 1855. Este bloco, liderado pelo escritor José de Alencar, fazia parte da tradição carnavalesca da elite da época, com desfiles luxuosos e grupos musicais bem estruturados.
Embora o Congresso das Sumidades Carnavalescas seja considerado o primeiro bloco organizado, o Zé Pereira do Club dos Lacaios, de Ouro Preto, é apontado como o bloco de rua mais antigo em atividade no país, com mais de 160 anos de história.
Outro bloco importante a ser mencionado é o Cordão da Bola Preta, fundado em 1918 no Rio de Janeiro, que também se tornou uma tradição carioca no carnaval de rua.
A primeira escola de samba do Brasil foi a Deixa Falar, fundada no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, em 1928. Ela é considerada a primeira por reunir os elementos que hoje caracterizam uma escola de samba, como desfiles com samba-enredo, alas de baianas, e outros elementos.
Neste ano, os foliões já usavam fantasias mais elaboradas.
Passistas da Escola Imperatriz Leopoldinense - Carnaval Rio de Janeiro 2022
A partir da década de 1930, com o surgimento das escolas de samba no Rio de Janeiro, como a Mangueira e a Portela,
as fantasias passaram a ser criadas com base em temas específicos, chamados de enredos.
As fantasias deixaram de ser apenas adornos individuais e se tornaram parte fundamental da narrativa visual das escolas.
O primeiro desfile oficial de escolas de samba aconteceu em 1932, na Praça Onze, no Rio de Janeiro, e contou com a participação da Mangueira e outros grupos,
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fantasia como arte e identidade
Escola de Samba Mangueira - Carnaval Rio de Janeiro 2016
Durante as décadas de 1950 a 1970, o Carnaval brasileiro entrou em sua chamada "era dourada".
As fantasias tornaram-se verdadeiras obras de arte, com grande riqueza de detalhes, plumas, lantejoulas, bordados e estruturas que desafiavam a criatividade dos carnavalescos.
As costureiras, aderecistas e figurinistas tornaram-se personagens centrais no processo de criação. Ao mesmo tempo, o Carnaval de rua manteve sua liberdade criativa, com fantasias irreverentes, críticas e populares, que muitas vezes faziam sátiras políticas e sociais.
A figura ao lado ilustra as Fantasias da Escola de Samba da Mangueira que desfilou no Carnaval 2016, na cidade do Rio de Janeiro,
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era do glamour
A partir dos anos 1980 e 1990, o Carnaval passou a ser amplamente televisionado, o que impulsionou o glamour e a espetacularização das fantasias. Celebridades passaram a desfilar nas escolas de samba com trajes luxuosos e sensuais, o que moldou uma nova estética, mais voltada para o apelo visual midiático. As fantasias também passaram a incorporar materiais novos, como espumas, plásticos e tecidos sintéticos, com foco na grandiosidade e no impacto visual.
"No século XX, a fantasia ganha impulso com o advento do cinema e da cultura pop, onde Hollywood trouxe personagens icônicos para as telas, inspirando pessoas a se vestirem como seus heróis favoritos.
A cultura pop também contribuiu para a diversificação das fantasias, abrangendo desde personagens de filmes até ícones da música e da televisão." (3)
Já as revistas faziam edições especiais com fotos exclusivas do Carnaval no Sambódromos do Rio de Janeiro e São Paulo, e nos principais Bailes de Carnaval.

Revista Manchete - março 1987
das fantasias ao abadá
Até os anos 60, predominavam os pierrôs, piratas, marinheiros e as caretas (máscaras). Mas a indumentária carnavalesca evolui no ritmo da folia, assim as fantasias e máscaras deram lugar às mortalhas, isso por volta dos anos 70.
As mortalhas eram fantasias, uma espécie de vestido longo, sem mangas, com um racho nas laterais da cintura pra baixo, para facilitar a movimentação dos pés, acompanhada por uma tira para amarrar na cintura e acomodar/dobrar o tecido conforme a imaginação, o que não tinha muitas opções.
A maioria das MORTALHAS eram fabricadas com tecido grossos, tornando a utilização um tanto incômoda e quente.
Ilustração de Pedrinho Rocha
No início, cores fúnebres como preto-roxa e ostentava uma grande cruz na frente e outra nas costas, além de um capuz como adereço.
Com o passar do tempo aderiram à mortalhas coloridas e alegres emblemas e patrocinadores dos blocos dão forma ao design à essa fantasia momesca.
No final dos anos 60, no Carnaval da cidade de Salvador, na Bahia, surge a MORTALHA, que era uma túnica reta, estilo camiseta longa, sem mangas, preta ou com cores bem escuras.
Entre 1975 e 1983, a mortalha foi cedendo lugar ao MACACÃO e ao short.
Em 1993 o Bloco Eva lançou o ABADÁ um traje carnavalesco com uma túnica menor e shorts e desde então, a mortalha foi cedendo espaço até ser praticamente quase extinta do Carnaval baiano.
Com o passar do tempo as fantasias foram aprimorando... CONTINUAÇÃO AQUI.

Fofão - foto: JP Turismo, divulgação
acessórios e adereços
Os acessórios e adereços de carnaval são elementos visuais acrescentados para enfeitar ou complementar uma FANTASIA ou um ABADÁ.
Mas também podem ilustrar o enredo de uma Escola de Samba no seu desfile, neste caso, são criados para serem luxuosos, coloridos ou perfomáticos, CONTINUAÇÃO AQUI.
Revista da Semana, fev 1922, ed-9, pg-33
evolução das fantasias no Brasil
O Carnaval brasileiro, uma das manifestações culturais mais marcantes do país, tem nas fantasias uma de suas expressões mais visíveis e vibrantes.
A história das fantasias carnavalescas é, ao mesmo tempo, o reflexo da diversidade cultural brasileira e uma janela para as transformações sociais, políticas e estéticas que ocorreram no Brasil ao longo dos séculos.
1800-1870 - Máscaras venesianas e figuras históricas/ literárias
1870-1910 - Simples: Diabinho, Pierrô, Colombina, Malandro
1910-1920 - marinheiros, palhaços, baianas, pierrôs, borboleta, diabinhos, etc.
Os acessórios usados eram artesanais como penas, lantejoulas, cetins coloridos.
1920-1930 - Os formatos das máscaras e fantasias eram de tecidos mais finos e adereços mais elaborados.
Aconteceu a padronização estética entre os foliões.
1930-1950 - Surge a fantasia do Rei Momo. As fantasias mais comuns no Carnaval do Rio de Janeiro sã:
maiôs, biquínis, inspiração pin-up e rádio.
As Fantasias passam a ser criadas com temas específicos (alegorias e enredos).
A Evolução para fantasias mais espetaculares com penas, plumas, lantejoulas, bordados.
Costureiras e aderecistas ganham protagonismo.
Neste período surgem as "alas" nas escolas, com fantasias padronizadas.
1950-1960 - Fantasias tornam-se mais volumosas, coloridas e sofisticadas.
Uso de espelhos, metais, tecidos brilhantes e estruturas internas.
Os estilo das fantasias se torna mais leve: maiôs, biquínis, saias rodadas, blusas decotadas - influência da rádio
e cultura pop
1960-1970 - Celebridades começam a participar dos desfiles com fantasias luxuosas (destaques, rainhas de bateria).
Surgem as "alas" nas escolas, com fantasias padronizadas.
A cultura hippie e tropicalista traz cores, liberdade e ousadia para as fantasias, em sintonia com a moda disco - cores vibrantes, tecidos transparentes, brilhos
Psicodelia, hippie, disco, tropicalista, Palhaços.
Nos blocos de rua: mais liberdade criativa, sátira política e humor.
1970-1980 - Aumento do tamanho das fantasias e carros alegóricos.
Fantasias influenciadas pela cultura pop: Carmen Miranda (anos 40), irmãs Metralha (anos 80), chacretes, personagens de novela,
fantasias da cultura Pop, personagens icônicos, dentre outros.
1990-2000 - Carnaval televisivo influencia o design das fantasias (impacto visual).
As celebridades desfilam com fantasias mínimas, reforçando o apelo sensual.
Neste período aconteceu o avanço do mercado de fantasias personalizadas e venda para turistas.
As Escolas de Samba investem mais em tecnologia e acabamento das fantasias.
Surge na cidade brasileira Salvador (BA), as Mortalhas e Abadás.
Careta, fevereiro 1911, ed-144 pg-22
2000-hoje - Fantasias com LED, 3D, com tecnologia, tecidos inteligentes, cultura local e retorno: Pierrôs e outras fantasias de outrora, principalmente nos bailes carnavalescos.
Surgem Fantasias sustentáveis, feitas com materiais reciclados ou reutilizados.
Uso de memes em fantasias tendo a política, a cultura pop e a internet como inspiração.
Ressurgimento de fantasias artesanais e criativas nos blocos de rua.
Acontece uma explosão dos blocos carnavalescos sem corda desfilando nas capitais brasileiras antes e depois do Carnaval, onde arrastam foliões com fantaias de todos
os estilos, o que impulsiona estilos de fantasias regionais.
evolução das fantasias no mundo
O Carnaval é uma das festas mais antigas e difundidas do mundo ocidental, com raízes que remontam às celebrações pagãs da antiguidade, como as Saturnálias romanas e as Dionisíacas gregas. Ao longo dos séculos, essas festas se transformaram e se adaptaram às culturas locais, dando origem a tradições carnavalescas únicas - e, com elas, à rica e diversa história das fantasias carnavalescas ao redor do mundo.
RAÍZES EUROPEIAS: O ENCANTO DAS MÁSCARAS
O Carnaval, em sua forma mais emblemática, floresceu na Europa medieval, especialmente nas cidades italianas, como Veneza. Ali, os elegantes bailes de máscaras tornaram-se uma marca da elite e do mistério. As icônicas máscaras venezianas promoviam o anonimato, dissolvendo fronteiras sociais entre nobres e plebeus. Os trajes luxuosos seguiam os padrões da moda renascentista, com tecidos nobres, detalhes dourados e capas imponentes. A tradição carnavalesca logo se espalhou por países como França, Alemanha, Espanha e Portugal, ganhando nuances locais. Em Paris e Nice, as fantasias refletiam o refinamento aristocrático; na Baviera, incorporavam figuras do folclore germânico; já em Tenerife, o desfile trazia traços coloniais e tropicais, revelando o intercâmbio cultural das Ilhas Canárias.
Ilustração Portuguesa, nr 886, Lisboa, Portugal, 10 de Fevereiro 1923, pgs 198 e 199.
O CARNAVAL NAS AMÉRICAS: RESISTÊNCIA E REINVENÇÃO
A expansão colonial europeia levou o Carnaval a novos continentes, onde encontrou terrenos férteis para se transformar. No Caribe, a celebração adquiriu forte influência africana, tornando-se um ato de resistência cultural dos povos escravizados. Elementos como penas, espelhos, miçangas e pintura corporal passaram a compor trajes cheios de simbolismo e criatividade. Em Trinidad e Tobago, personagens marcantes como o Midnight Robber e o Jab Jab surgiram com figurinos teatrais que combinam mitologia africana, sátira e tradição oral. Já nos Estados Unidos, o Mardi Gras de Nova Orleans apresenta uma fusão vibrante de culturas - francesa, espanhola, africana e indígena - com desfiles repletos de cores, máscaras, colares e carros alegóricos majestosos.
CARNAVAL SUL-AMERICANO: EXPRESSÃO E IDENTIDADE
Na América do Sul, o Carnaval se desdobrou em manifestações únicas, cada uma refletindo sua própria identidade cultural. A Bolívia celebra o Carnaval de Oruro, reconhecido como patrimônio da humanidade, com trajes que combinam rituais indígenas e iconografia cristã. A famosa Diablada mescla máscaras de demônios com vestimentas pesadas e coloridas, representando o eterno embate entre o bem e o mal. Na Colômbia, o Carnaval de Barranquilla dá vida a personagens lendários, críticas sociais e homenagens às tradições locais. Já no Uruguai e na Argentina, a festa carrega as raízes do candombe e da herança afro-platina, com fantasias que evocam os ancestrais africanos e mantêm vivas suas histórias e ritmos.
CARNAVAL CONTEMPORÂNEO: CRIATIVIDADE SEM FRONTEIRAS
No século XXI, o Carnaval rompeu fronteiras e se globalizou, adaptando-se a diversos contextos culturais. Festivais inspirados em tradições carnavalescas brotaram em diferentes partes do mundo - como o Carnaval de Notting Hill, em Londres, o de Toronto, no Canadá, e versões alternativas em cidades como Berlim e Tóquio. Nesses eventos, as fantasias tornaram-se instrumentos de afirmação identitária, celebração da diversidade e resistência cultural. O Carnaval contemporâneo é, assim, um mosaico multicultural em constante reinvenção.
A fantasia carnavalesca é uma forma de expressão livre, popular e multifacetada.
Ela mistura tradição e inovação, arte e política, crítica e celebração.
Evoluindo junto com a sociedade, as fantasias refletem as mudanças nos valores culturais (o MALANDRO, a BAUTA) e junto aos adereços, elas contam histórias no grande palco da imaginação.
BIBLIOGRAFIA
Pesquisa: Lilian Cristina Marcon
(1) Museu di Roam - www.museodiroma.it
(2) Villa Global Education - campusvilla.com.br
(3) Wessell Compartimentos
(4) DICKENS, Charles - diário de viagem "Pictures from Italy" (Londres: Bradbury & Evans, 1846), pp. 178-179
- CAPA, RODOLPHO CHAMBELLAND, Baile a Fantasia, E.N. de B.Artes
- BIBLIOTECA Nacional do Brasil, acesso a Hemeroteca Digital 2021
- BIBLIOTECA Nacional da França, Costumes de Carnaval, 1841
- CARETA, periódico de feverereiro 1911 = ed-143, pg8 / ed-144 pg-22
- CHAMBELLAND, Rodolpho, 1913, pintura da capa, Museu Belas Artes, Rio de Janeiro
- ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA, nr 886, Lisboa, 10 de Fevereiro de 1923, pgs 198 e 199
- INSTITUTO Moreira Salles, foto Jean Manzon de 28/02/1946, no Baile de Carnaval do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro, por Diários Associados, acervo IMS.
- O MALHO, periódico de feverereiro 1919, ed-860, pg-14
- REVISTA DA SEMANA, periódico de: 1922 ed-9 pg-33/ 1923 pgs-28 e 38/ 1928, pgs-15 e 30
- IMAGENS, Créditos de Images descritos nas fotos, pinturas e ilustrações
CarnAxE, aqui é Carnaval