cantinho da folia


Resgatando a história carnavalesca em uma época em que de um "perfume de toucador" virou um grande sucesso da folia momesca onde atiravam uns nos outros, jatos estes perfumados que visava os olhos.

LANÇA-PERFUME

O LANÇA-PERFUME em outrora também chamado como RODO, RODO METÁLLICO, ROLO METÁLICO, dentre outros. Por volta de 1900 foi um produto desodorizante em forma de spray, composto por Éter, de cloreto de etila e acondicionado sob pressao em ampolas de vidro ou metal (gás e perfume). Por ser produzido com 60 gramas, apenas com Éter e aromatizante, o seu efeito era rápido com risco de dependência quase nulo.




A sua base era de Éter, um solvente químico que esfriava em contato com o ar e deixava o folião um pouco "zonzo" e também agia como "desinibidor". São Tubos/Bisnagas cilíndrica de VIDRO ou METÁLICA com líquido aromático que no bico é inalado (baforada) ou lançado a jato com aroma perfumado ou adocicado, esguichado entre os foliões. Os efeitos do lança-perfume duravam em média de 15 a 40 minutos.


origem e história

Antigamente o LANÇA-PERFUME era uma novidade elegante, com perfume sutil e delicado para a FINA ELITE, importada da França. Em 1902 é registrado em uma crónica na Bahia como um produto pouco acessível, encontrado em pouca quantidade. Liberado nos festejos carnavalescos, se tem notícia nos jornais do Rio de Janeiro em 1904, e em pouco tempo, foi incorporado no Carnaval do Brasil.

O lança-perfume era liberado e circulava livremente entre Hotéis, Bailes, Clubes, Ruas e Corsos, virando tradição com as grandiosas BATALHAS DE CONFETTI E LANÇA-PERFUMES. Em Salvador uma das famosas batalhas acontecia no Hotel Sul-Americano, localizado da ladeira de São Bento que abrigavam as "famílias" para as festas.

Uma das importadoras era a Société des Usines Chimiques du Rhône, empresa francesa que fazia parte do grupo que mais tarde abriu a fábrica da Rhodia.

Em 1919 John Louis Graz (1891-1980) participou do Concurso do lançamento de um novo produto: o lança-perfume. Segue o cartaz da Campanha do Lança-perfume GEYSER distribuído pela Rhodia do Brasil.


Só em 1921 começou a ser fabricado no Brasil. A RHODIA, Companhia Chimica Rhodia Brasileira, com sede no distrito de Santo André (atualmente é cidade), município de São Bernardo do Campo, estado São Paulo, filial brasileira do então grupo francês Rhône-Poulenc, começou em 1921 a produção do lança-perfume.

Segundo a Rhodia: "O sucesso de vendas do produto nos carnavais brasileiros foi um dos fatores que estimulou a vinda da empresa francesa para o Brasil". (1)

Após fabricar as marcas RODO e RIGOLETTO, em 1926 foi industrializado a versão do lança-perfume em frasco de alumínio para conter os constantes acidentes com os recipientes em vidro.

Para o Carnaval de 1927 foi lançado o "Luxuoso e Elegante" RODO METALLICO, tendo no ano seguinte um extraordinário sucesso.

Posteriormente o lança-perfume da marca RODOURO da marca RHODIA era industrializado na fábrica da Argentina e importado para o Brasil.



No Carnaval de 1929, segundo Mendes Fradique: "O Brasil é verdade, neste momento, o único paí do mundo em que se usa em escala vultuosa o lança-perfume, bem entendido: o lança-perfume carnavalesco." (3)

"Portugal, provavelmente por haver importado do Brasil, deu algum curso ao uso do lança-perfume, mas isso em escala tão pequena que a cifra portuguesa nas grandes fábricas do produto quase atinge zero..."(3)

"A Índia consome alguns tubos de lança-perfume, mas sem ligação com a folia carnavalesca; os Hindús usam-no apenas como perfume de toucador." (3)

"O Brasil detém, pois o direito de intitular-se o BERÇO e o HABITAT DO LANÇA-PERFUME de Carnaval." (3)


"A idéia de usar os tais perfumes de toucador como substitutivo das clássicas bisnagas de água perfumada, com que se fazia o ENTRUDO elegante da cidade ... " (3)

"Vei-lhe com certeza a cabeça lançar a moda oriiginal: ao invés de água, ether perfumado." (3)

"Eis como instituiu o lança-perfume em substituição das bisnagas deágua cheirosa." (3)

Logos as autoridades surprimiram por lei o usao da água como trote no ENTRUDO, e o ETHER CHLORHYDRICO ou CHLORETHYLA, veinculando perfumes, tomou a logar que hoje, dia 16 de fevereiro de 1919, ocupa." (3)

"E é até agora, o BRASIL O ÚNICO país do mundo onde o lança-perfume atinge, em sua produção e consumo... ". (3)

"E que levaram as Usinas do Rhodano (Rhodia) a instalar no Brasil, em São Bernardo - São Paulo, a MAIOR FÁBRICA DE LANÇA-PERFUME que há no Mundo." (3)

Em 1929, "O vidro empregado nos lança-perfumes que se esgotam nos quatro dias de Carnaval daria para fabricação de 77.836 dúzias de Garrafas de Cerveja." (3)

Nos anos 20 e 30 haviam BATALHAS DE CONFETTI e LANÇA-PERFUME no Rio de Janeiro, geralmente na Rua Coronel Figueiredo de Mello, no trecho entre a RuaFrelick e a Praça Marechal Deodoro.

Era uma abundância de confetes, serpentinas e lança-perfumes das mais variadas marcas onde as damas tinham a "delicadeza e o espírito de manobrar o folgazão ataque".

Em 1936, mesmo com inúmeros vendedores ambulantes com imenso estoque de lança-perfumes garantido o comércio para os dias de folia momesca, os jornais mostrava uma corrente favorável a proibição do seu uso durante o Carnaval,
CONTINUAÇÃO AQUI.

Com as Casas de Perfumarias aderindo a venda dos lança-perfumes em todo o país e vendo seus estoques imensos sendo esgotados rapidamente durante a folia momesca, é um ERRO AFIRMAR que ele foi ou que teve o título de SÍMBOLO do Carnaval Brasileiro.



Isso porque a Rhodia fez uma propaganda referente a sua MARCA, mas em nenhum dos jornais e revistas da época fizeram a referência ao lança-perfume ser um símbolo carnavalesco, os jornais anunciaram que ele havia virado uma febre nacional e seus estoques esgotados rapidamente.




bailes carnavalescos

O Lança-Perfume era liberado nos grandes e elegantes bailes carnavalescos em Clubes e Particulares, assim como na folia momesca de rua e nos desfile de corsos, na capital ou interior, e esguichavam o spray gelado e aromático no pescoço de quem passasse.


batalha de confetti e lança-perfume

Nos Carnavais das primeiras décadas do século passado, de 1914 até por volta de 1930, há notícias de que era comum nos Clubes, Ruas de bairros e Teatros fizessem as imponentes e inocentes BATALHAS de CONFETTI E LANÇA-PERFUMES no Rio de Janeiro, reunindo grupos de amigos e grandes famílias fantasiadas.

Nos bares desses recintos disponibilizavam a venda de confetes, serpentinas e diversas marcas de lancá-perfumes de grandes marcas importados e posteriormente nacionais. CONTINUAÇÃO AQUI


circulavam versos musicais gerando a propaganda da marca

"Rei Momo agora merece
Nosso apoio oficial...
Mas a alegria quem tece
é o bom RODO de metal!" (2)

"Um perfume suave eu espalho,
Sou distinto, perfeito, não falho.
Sou metal e no chão não estouro
Sou o lança-perfume RODOURO." (2)

 
fragâncias de lança-perfume


 


surgem novas marcas brasileiras

Além das marcas RODO (importada), GEYSER (importada e distribuida pela Rhodia), RODO METÁLLICO (Companhia Chimica RHODIA Brasileira localizada em São Bernardo do Campo - SP) e RIGOLLETO (Rhodia) novas marcas começaram a aparecer no mercado como FLIRT, PIERROT (Sociedade Elekeiroz), COLOMBINA (Fábrica de Productos Chimicos S.Pedro - Cintra Barros & Cia - instalada na cidade de São Caetano SP), ALICE (Francisco Carneiro & Companhia, Rua São Pedro, 36, Rio de Janeiro), RODOURO (Rhodia), RODO BABY e VLAN (Empresa Comércio e Indútria Vlan com sede na Rua Fonte da Saudade, 187 no Rio de Janeiro.

Na cidade do Recife, no Pernambuco, teve uma fábrica de lança-perfumes chamada Indústria e Comércio Miranda Souza S.A., localizada na Rua da Aurora, responsável pela produção das marcas PARIS e ROYAL.

 
como eram os tubos antigos de lança-perfume?





  
propagandas de lança-perfume no Brasil

Os anúncios de lança-perfume eram frequentes nos periódicos (revistas) e jornais.


1954 . revista de quadrinhos

Tamanho o sucesso do lança-perfume no Brasil que até os quadrinhos do Walt Disney registrou na capa do Gibi do Pato Donald da Editora Abril, publicado em 02 de março de 1954. Desenhado por Álvaro de Moya, o Zé Carioca vestido de Pierró apaixonado ao lado Pateta fantasiado de "O Malandro Carioca" segurando uma mangueira. Na mangueira está escrito "Lança-perfume - Patetolino - Marca Registrada Brasileira", enfatizando que o lança-perfume é fabricado no Brasil, na cidade de Santo André - São Paulo. Antigamente Santo André era distrito de São Bernardo do Campo.



lança-perfume vira marchinha e POP



Em 1956, o sambista brasileiro Jackson do Pandeiro lançou no álbum "Carnaval de Copacabana" (em LP) a marchinha carnavalesca VEM DÁ UM CHEIRINHO. Confira aqui a letra completa:

Me dá um lenço Mandarim
Bote um pouquinho desse cheirinho pra mim
Bote, Bote, Bote mais um poucadinho
Com esse cheiro eu vou pro Céu devagarinho

O Delegado não quer que cheiro isso não
Pode haver confusão no sação
Mas bote, bote, bote sempre um poucadinho
Para alegrar o coração de um folião

Me dá um lenço Mandarim
Bote um pouquinho desse cheirinho pra mim

No fim dos anos 1970, a cantora e compositora brasileira Rita Lee eternizou o lança-perfume em uma canção que virou sucesso nacional.

Lança menina, Lança todo esse perfume
Desbaratina, Não dá pra ficar imune
Ao teu amor que tem cheiro de coisa maluca

Vem cá, meu bem
Me descola um carinho
Eu sou neném, só sossego com um beijinho
Vê se me dá o prazer de ter prazer comigo
Me aqueça

Me vira de ponta cabeça
Me faz de gato e sapato
Me deixa de quatro no ato
Me enche de amor, de amor

Lança, lança perfume, oh
Lança, Lança-perfume, oh, Lança-perfumeee

 

proibição do lança-perfume no Brasil

Em 1936, o Jornal O Imparcial do Rio de Janeiro anunciava em 23 de janeiro: "Avoluma-se a corrente favorável a proibição do seu uso durante o Carnaval - Uma sugestão da seção de Tóxicos e Entorpecentes da Polícia". (5)

O Jornal ressaltava que o lança-perfume parou de ser um divertimento inocente e se tornou em um fator prejudicial a ordem pública e aos bons costumes e para a saúde dos carnavalescos.

Em 1957, o Deputado Federal Carlos Albuquerque apresentou em abril, um PROJETO LEI na Câmara dos Deputados do Brasil , que PROIBIA O USO, COMÉRCIO e FABRICAÇÃO do lança-perfume, argumentando a causa de acidentes e mortes.

O lança-perfume foi proibido somente em 18 de agosto de 1961, pelo presidente Jânio Quadros através da publicação do DECRETO 51.211, que proíbe a fabricação o comércio e o uso do lança perfume em território nacional. Mas em 22 de fevereiro de 1965, o DECRETO 55.786, além de proíbir em todo o território nacional a fabricação, o comércio e o uso de E foi revogado pelo DECRETO 9.917, 18 de julho de 2019, em atual vigência.


E têm-têm muito mais trajetória histórica carnavalesca, desfrute das pinceladas do ENTRUDO, passeando entre os CHARIVARIS e os CARETOS jogando água com BISNAGAS (Avó do lança-perfume) ou atirando LIMÕES PERFUMADOS. Pulando na história para o &ZÉ PEREIRAS acompanhado pelos GIGANTONES, dos CABEÇUDOS, dos BONECOS GIGANTES DE OLINDA, e dos BONECOS DE MÃO.


C-U-I-D-A-D-O - o lança-perfume é prejudicial a saúde

Nos dias de hoje o uso de lança-perfume é proibido no Brasil e coloca em risco a vida das pessoas. O LANÇA-PERFUME PODE FAZER MAL E ATÉ MATAR. Análises atuais apontam que a base do lança-perfume foi reformulada com sabores doces (novos aromas como coco, cereja, chiclete, dentre outros) e SE TORNOU MUITO PERIGOSA E UMA DROGA VICIANTE.
"Originalmente, o lança-perfume era produzido apenas com éter e aromatizante. Os efeitos eram rápidos e o risco de dependência eram menores. Atualmente utilizam elementos prejudiciais e viciantes na formulação." (4)


Estamos apenas resgatando a trajetória histórica carnavalesca.
Use sua alegria para se divertir em segurança, sem drogas.
Fique atento! Não se envolva com essa droga!


BIBLIOGRAFIA
- Pesquisadora Lilian Cristina Marcon
(1) Rhodia Brasil, site oficial, Rhodia 100 anos, SEE+
(2) GASPAR, Lucia - O Corso no Carnaval do Recife, Biblioteca Fundação Joaquim Nabuco
(3) Cruzeiro -Revista Semanal Illustrada, O Lança-Perfume por Mendes Fradique, 16/02/1929, ed.12
(4) Hospital Santa Monica - Lança-perfume: um dossiê completo sobre a droga, 03/12/2018,SEE+
(5) O Imparcial, jornal do Rio de Janeiro, 23/01/1936
(6) O Imparcial, jornal do Rio de Janeiro, 05/02/1920
(7) Almanaque Centenário 1915 - 2015: Imprensa Oficial do Estado do Pernambuco
- 100 anos de Propaganda, pg.35, Abril Cultural
- Almanak Laemmert Administrativo Mercantil e Industrial RJ, 1927, ed.83
- A Noite, "Mais Batalhas de Confetti e Lança-Perfume", 04/02/1915
- A Razão, 14/02/1938, ano 2, ed.507
- Biblioteca Nacional do Brasil, Hemeroteca Digital
- Correio de Joinville, 22/02/1930
- Correio Paulistano, 1936 ed.24518, pg4 // 1930, ed 23796
- Cruzeiro - 1929, ed.10, pg.47
- Decreto 51.211, 18 de agosto de 1961, SEE+
- Decreto 55.786, 22 de fevereiro de 1965, SEE+
- Decreto 9.917, 18 de julho de 2019, SEE+
- Delcamp.net Collection France
- Diário Carioca, ano XXXIV, ed.10161, capa
- Fon-Fon, fevereiro de 1917, pg.8 // 1914 ed.8, pg.19
- FRANCO, Joã - Leiloeiro
- Gibi Pato Donald, Walt Disney, Editora Abril, 02/03/1954, publicado por Pop Fantasma em 2019
- Instituto de Piano Brasileiro
- MUCHA, Alphonse - Bibliotheque Nationale de France, em Paris, Alphonse Mucha, Lance Parfum, Rodo, 1896
- MUCHA, Alphonse - Exposição O Legado da Art Nouveau, Curadoria de Tomoko Sato e Ania Rodriguez, FIESP Brasil, Janeiro/2020
- O Malho, ano XI, ed.491, 10/02/1912
- O Imparcial RJ, ed.1751 08/02/1921
- Pilheria PE, 1926, ed.229
- São Caetano Jornal, 29 de janeiro 1929
- Show de Rita Lee no Maracanãzinho em 31/01/1981 por Caetano Veloso em Detalle de Evangelina Maffei


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